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Vida Espiritual e Esvaziamento





É um privilégio e ao mesmo tempo uma imensa responsabilidade estar aqui na frente.

Que o Senhor continue conosco, nos encontrando no seu Espírito.

O ano passado, dezembro do ano passado, eu ministrei, estive aqui. E eu falei sobre dois movimentos: o movimento ascendente e o movimento descendente. E também sobre esvaziamento e a vida espiritual.


O movimento ascendente está ligado à subida, ascensão, status, elevação, totalmente ligado aos valores deste mundo. Já o movimento descendente é totalmente contrário a esse. Ele está relacionado à descida. A escada para Deus é contrária. Quanto mais eu desço, mais eu me aproximo de Cristo.

Tem um trecho de uma oração puritana no livro "O Vale da Visão". Ele fala assim: Senhor, permita-me aprender pelo paradoxo que o caminho para baixo é o caminho para cima.

 

Hoje nós continuaremos nessa mesma temática dos movimentos ascendente e descendente, esvaziamento e a vida espiritual, mas apoiados no texto de Mateus 4, a partir do versículo 1. Vamos abrir para nós lermos juntos.

 

A seguir, Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo. E, depois de jejuar 40 dias e 40 noites, teve fome. Então o tentador, aproximando-se, disse a Jesus: Se você é o Filho de Deus, mande que essas pedras se transformem em pães. Jesus, porém, respondeu: Está escrito: O ser humano não viverá só de pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.

 

Então o diabo levou Jesus à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse: Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui, porque está escrito: Aos seus anjos, ele dará ordens a seu respeito, e eles o sustentarão nas suas mãos, para que você não tropece em alguma pedra. Jesus respondeu: Também está escrito: Não ponha à prova o Senhor, seu Deus.

 

O diabo ainda levou Jesus a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, e disse: Tudo isso lhe darei, se prostrado, você me adorar. Então Jesus lhe ordenou: Vá embora, Satanás, porque está escrito: Adore o Senhor, seu Deus, e preste culto somente a ele. Com isto, o diabo deixou Jesus, e eis que vieram os anjos e o serviram.


O que antecede esse texto é o batismo de Jesus, o céu se abrindo para Ele e o Espírito descendo sobre Ele, e a declaração vinda dos céus sobre Ele ser o Filho amado em quem o Senhor se agrada. A vida espiritual é a vida do Espírito de Cristo dentro de nós e por meio de nós. O Espírito nos conduz pela vida descendente, não para nos fazer sofrer, nem para nos sujeitar a dor e a humilhação, mas para nos ajudar a ver Deus no meio das nossas lutas.

 

A exemplo, lembremos de Jó: de uma só vez ele perdeu todos os seus filhos, todos os seus bens e ainda ficou entre a vida e a morte. No final, além de receber tudo, ele reconheceu que Ele conhecia Deus só de ouvir falar. Reconhecer Deus na via descendente de Cristo, nosso Cristo, o nosso Jesus homem no qual Paulo ensina e nos aquece no Espírito, em sua carta aos Filipenses, temos entre nós o mesmo modo de pensar de Cristo Jesus.


Qual o modo de pensar? Qual a mentalidade que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou ser igual a Deus? Não usurpou  ser igual a Deus, algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos e reconhecido em figura humana.

Ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Esse reconhecimento nos torna conscientes de que somos seus filhos, filhos de Deus. E se somos filhos de Deus, somos então irmãos de Jesus, participantes dessa via descendente. A via da cruz.


Os Evangelhos, eles nos apresentam Jesus nas vésperas da sua morte, explicando aos seus discípulos que o seu ministério só é possível porque eles, os discípulos, não pertenciam ao mundo e à sua forma de vida.

Na oração sacerdotal que Jesus dirige ao Pai, ele diz: "Eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo." Esta não pertença, este não pertencer constitui a base da missão de Cristo. "Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do maligno. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo." João 17.

 

Com essas palavras, Jesus nos diz que o Espírito pelo qual nós, participantes na vida divina, é o mesmo Espírito que nos permite estar no mundo sem sermos do mundo. O mundo, porém, é o lugar por onde o maligno vagueia. É a morada do tentador que quer nos arrebatar de Deus e nos fazer retornar à via do movimento ascendente. Henri Nouwen nos encoraja a confrontar e lidar com este tentador olhos nos olhos. Assim como Jesus foi enviado pelo Espírito para o deserto para ser tentado, também nós o somos. Nouwen  diz que poder ser, não está dizendo que seja, mas pode ser que a verdadeira qualidade da nossa vida espiritual só possa ser reconhecida frente às nossas tentações, às nossas lutas.

 

Jesus, recém-saído de um ritual solene que foi o seu batismo, foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado. Ele foi levado ao combate. Ele não se envolveu deliberadamente, mas foi levado pelo Espírito.

 

O Espírito que desceu como uma pomba sobre ele traz mansidão, mas também nos traz coragem. Notem que a nossa preocupação deve ser a de não cair em tentação. Mas, se Deus, pela sua providência, permitir que passemos por circunstâncias de tentação para o nosso aperfeiçoamento, não devemos julgar isso estranho, mas dobrar a nossa vigilância, estarmos atentos.


Seja forte no Senhor. Resista com firmeza na fé e tudo estará bem. Amém, irmãos. Se confiarmos na nossa própria força e tentarmos o diabo a nos tentar, estaremos provocando a Deus para nos deixar sozinhos. Mas onde quer que Deus nos leve, podemos ter esperança de que Ele irá conosco e nos dará a vitória. Amém. Vocês creem?

 

Não tentemos o nosso Deus, mas permitamos que Ele nos conduza em todo o tempo, seja no bom, seja no ruim para nossa alma. Porque não existe ruim para Deus em tudo. Ele está nos adestrando.

 

Observem, depois de sermos admitidos à comunhão com Deus, podemos esperar ser assediados por Satanás. A alma enriquecida precisa dobrar sua vigilância. Quando tiver comido e estiver satisfeito, esteja atento. O texto é muito rico, mas eu vou me ater às tentações às quais o Senhor foi submetido. Avalie as três tentações com as quais somos confrontados repetidamente: são a tentação de sermos importantes e influentes, a tentação de impressionar, e a tentação de sermos poderosos.

 

Todas elas nos chamam a regressar às vias do movimento ascendente e a nos desviar da nossa missão de revelar Cristo ao mundo. E quando nos desviamos da nossa missão, e Wilson, semana passada, nos falou sobre as minas que a cada um de nós foram entregues por Jesus, às quais Ele pedirá conta. Então, quando nós nos desviamos da nossa missão, quando nós largamos essas minas que nos foram entregues, nós voltamos para nós mesmos, e então deixa de ser por Ele, para Ele. É por causa dEle. Passando a ser por mim e para mim, e por causa de mim. Não é sobre nós. Não é sobre nós. É sobre Ele.

 

Tudo é sobre Ele. Tudo é por causa dEle. Tudo é para Ele. E como Wilson também falou: Não podemos viver displicentemente, porque sabemos que no final vai dar certo. Olha que loucura! Sabemos o final da história. Nós sabemos o final da história. Quem não sabe o final da história? Se você não sabe o final da história, você não leu, não lê a Bíblia, porque a Bíblia fala, ela mostra.

 

Ela deixa claro o final da história. Só que nós vivemos como se não soubéssemos. Nós vivemos displicentemente. Nós vivemos focados nesta terra, nos valores desta terra. Juntamos tesouros nesta terra, sabendo, conscientes, que são palha, que o fogo virá, e não adianta nós espernearmos, o fogo vai queimar tudo, tudo. Você não leva nada.

A alegria eterna que nós experimentamos já nesta terra, como nós já começamos a experimentar esta manhã, neste movimento, essa alegria você não encontra em lugar nenhum.


Falando especificamente para os jovens que estão iniciando e que são bem atentados pela tentação, cercados. Não existe nada nesta terra que satisfaça a nossa alma. Você pode até satisfazer ali um pouquinho, você pode até sentir uma alegriazinha, mas logo você é inundado pelo vazio, porque não tem nada nesta terra que te dá alegria. Tudo é momentâneo, tudo é momentâneo. Somente no Senhor a alegria verdadeira, o que não significa que não passaremos por aflições, por dificuldades.


Olhando por esse ângulo na questão de que tudo vai ser queimado, na questão de que nós sabemos o fim da história, não dá pra perceber. Se avaliarmos as nossas vidas como nós estamos gastando os nossos dias, não dá pra perceber que a gente tem problema?  Problema mental não é? Pensa se eu sei, é o fim da história. Se eu sei que tudo nessa terra não há nada nessa terra que me satisfaz, se eu fico querendo me alegrar nisso aqui não dá pra entender.


Fala gente, eu sou doida! Eu tenho problema mental sim.

É como ler o Antigo Testamento e ficar criticando o povo pela dureza do coração deles, por não se sujeitarem. Queridos, nós somos esse povo, nós somos duros, nós somos imprudentes, nós somos obstinados, nós somos infiéis, nós somos trôpegos.

Voltando aqui, nas três tentações, com os olhos no texto de Mateus 4.


Vamos falar um pouquinho sobre essa primeira: a tentação de sermos importantes e influentes. A primeira tentação com que o diabo abordou Jesus foi a de transformar pedras em pães. É a tentação do destaque pessoal, de fazer qualquer coisa útil e que possa ser apreciada pelas pessoas, de fazer da produtividade a base da nossa vida, do nosso ministério.


Com que frequência nós ouvimos palavras assim: “De que serve falar de Deus às pessoas famintas?” “ De que serve proclamar as Boas Novas a pessoas que não têm alimento, abrigo ou roupa?”  “Aquilo que precisamos é de pessoas que possam oferecer ajuda e apoio reais. Os médicos podem tratar, os advogados podem defender, os banqueiros podem financiar, os assistentes sociais podem reestruturar.” “Mas o que é que você pode fazer? O que você pode oferecer?” Essas palavras e o tentador que está a falar, essa tentação.


Ela toca o âmago da nossa identidade numa diversidade de formas. Nós somos levados a acreditar que somos aquilo que produzimos, e isso nos leva a nos preocupar apenas com produtos, resultados visíveis, bens tangíveis e progresso.

A tentação da influência pessoal é difícil de sacudir, visto que habitualmente não é considerada uma tentação, mas um chamado. Nos convencemos de que somos chamados para ser pessoas produtivas, pessoas bem-sucedidas e eficientes. E longe de mim estar aqui para defender a pobreza.


Como eu falei na última vez que eu ministrei. Estamos falando de vida espiritual, vida com Deus, sobre o verdadeiro alimento que sacia a fome, a verdadeira da água que sacia a sede.

A viver neste mundo, mas não pertencer a ele. Quando Jesus foi tentado a transformar pedras em pão, olha o que Ele disse ao tentador: "O ser humano não viverá só de pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus". Jesus não negou a importância do pão, relativizou antes em comparação com o poder que a Palavra tem de nos alimentar.


Vamos abrir em Deuteronômio 8:3

“Ele humilhou vocês. Ele os deixou passar fome. Ele o sustentou com o maná que vocês não conheciam e que nem os pais de vocês conheciam. Para que vocês compreendessem que o ser humano não viverá só de pão, mas de tudo o que procede da boca do Senhor.”

O pão nos é dado por Deus para que nos abandonemos a Ele.

As realizações pessoais, a eficiência, a produtividade podem nos ser acrescentadas, sim. Dois capítulos à frente do texto que nós lemos, Jesus nos instrui sobre não nos preocuparmos com nada na nossa vida, não andarmos ansiosos quanto ao que iremos comer ou beber, com o que iremos vestir, mas nos preocuparmos em buscarmos primeiro o Reino de Deus e a sua justiça.


E então todas essas coisas nos serão acrescentadas, como todas essas coisas: comer, beber, vestir, tudo o que está relacionado a este mundo, tudo nos será acrescentado. Novamente, o pão nos é dado por Deus. Não somos o pão que oferecemos, mas sim pessoas que são alimentadas pela Palavra de Deus e que assim descobrem a sua verdadeira identidade. O desafio radical que nos é lançado é deixar que a palavra divina nos molde continuamente como seres humanos, para participarmos todos os dias do banquete da sua Palavra, transformando-nos em pessoas livres e destemidas.

 

Assim, poderemos continuar a dar testemunho da presença de Deus neste mundo, mesmo quando os resultados sejam poucos ou invisíveis. O dia a dia, o teste a teste. Não desprezemos o ordinário, o extraordinário. Ele vem de dias, meses e até mesmo anos de perseverança no ordinário. Ontem, eu tive o privilégio de ir com alguns irmãos para a Rubiataba e nós passamos o dia de jejum e oração lá, e tinha um grupo pequeno de lá também. Eles estavam reunidos na chácara. Tem pessoas na nossa comunidade que são de lá, que já estiveram com esse grupo.


Essa comunidade foi muito abençoada, tocada por esse grupo. Eles estão sobrevivendo. São homens e mulheres já de idade, com alguns filhos já envolvidos no mundo e outros que estão ali honrando seus pais.

E esse grupo recebeu uma palavra ontem, uma palavra de perseverança, que é algo que o Senhor ainda fará ali e através de lá. E eu vi homens de muita idade, que já estavam desesperançosos, chorarem compulsivamente porque foram tocados pela esperança da perseverança.


Queridos, perseverar não é algo fácil. Perseverar requer muita escuridão, muita solidão, muita tristeza. Perseverar quando tudo está fluindo, quando ministerialmente, eu estou bombando. Quando a minha conta bancária está lotada, quando o meu salário sobra horrores. Não é assim que nós perseveramos. Perseverar é quando está doendo. Perseverar é quando a minha alma está sangrando. Perseverar requer sujeição, requer entrega.


Para sermos cristãos dispostos a acompanhar Cristo no seu caminho de esvaziamento, devemos estar dispostos a desligar-nos constantemente de qualquer necessidade de destaque e a confiar de forma cada vez mais profunda na Palavra de Deus.

Segunda tentação: a tentação de impressionarmos. A segunda tentação com que Jesus é confrontado é com que nós também somos confrontados, e a tentação de sermos impressionantes.


O diabo levou Jesus até a cidade santa, colocou sobre o pináculo do templo e disse: "Se você é o filho de Deus, jogue-se daqui, porque está escrito: aos seus anjos, Ele dará ordens ao seu respeito e eles o sustentarão nas suas mãos, para que você não tropece em alguma pedra". É a tentação de forçar Deus a atender pedidos fora do habitual, pedidos sensacionais, extraordinários, e depois obrigar as pessoas a acreditarem. A tentação de fazer coisas que seduzam não diminuiu desde a época de Jesus, chegamos ao ponto de acreditar que uma celebração só tem valor quando tem muitos participantes, que um ministrante da palavra só tem valor se muitos o ovacionarem.

Se está bombando nas redes sociais, no YouTube.


Somos pessoas que lançam suas expectativas em homens e quando esses não correspondem às nossas expectativas, eles são descartados. Na  mesma hora que nós os honramos, nos desonramos. A instabilidade ela está intrínseca em nosso coração, em nossa alma, em nossas entranhas. Acreditamos que um grupo de estudo, de jovens, de mulheres, de homens de oração só é bom quando muitos querem fazer parte dele.

Acreditamos que uma igreja tem êxito quando muitos desejam se tornar membros, e assim segue.


A verdade, na nossa cultura é hoje tão largamente determinada pelas estatísticas, é que é fácil para nós acreditarmos verdadeiramente que o número de pessoas que escutam, assistem ou participam é uma medida de qualidade daquilo que é apresentado. A que ilusão.


Um parênteses: temos sido tão mal conduzidos pela internet que tem um devocional que ele tomou assim, todos os corações unânimes nessa cidade e outras cidades. A procura esgotou. Era difícil para vender em todos os lugares, esgotado. E sinceramente, irmãos, eu nunca vi um devocional tão raso, tão raso, tão raso. Mas a propaganda extraordinária sobre ele fez todos os zumbis internautas quererem.

Ai que tristeza! Fecho parênteses.


Temos dificuldade em acreditar que a salvação tenha vindo a partir de Israel. Temos dificuldade em acreditar que uma coisa boa possa provir de um lugar desconhecido. Temos dificuldade em acreditar que o nosso Deus é um Deus que veio na forma pouco impressionante de um servo que entrou em Jerusalém montado num jumento e que foi morto como um criminoso comum.


E ainda temos mais dificuldade em acreditar que foi um punhado de rudes pescadores que espalharam a Boa Nova de Deus pelo mundo. Viu como nós estamos sendo engodados pelos valores dessa terra? Nós estamos aqui, mas nós não somos daqui. Nós não pertencemos aqui. Nós sabemos o final da história.

Agimos sempre como se a visibilidade e a notoriedade fossem os principais critérios de valor daquilo que fazemos. Não é fácil agir de outro modo. É verdade que a nossa sociedade é regida pelas estatísticas. Os maiores êxitos de bilheteria, os livros que melhor se vendem, os automóveis mais procurados, os atletas que batem recordes. Esses são os sinais que temos diante de nós qualquer coisa que realmente vale a pena. Que ilusão!

 

Assim, preocupados com coisas fascinantes, nós que temos sido na maior parte das nossas vidas espectadores, mal podemos conceber que o que é desconhecido, insignificante e oculto possa ter algum valor. Como podemos ultrapassar essa tentação que invade toda a nossa vida? É importante reconhecer que a fome de coisas espetaculares, tal como nosso desejo de nos evidenciarmos, tem muito a ver com a nossa procura de identidade.

Ser uma pessoa e ser se visto, apreciado, amado. Tem se tornado quase a mesma coisa para muita gente. Quem sou eu se ninguém me presta atenção, se ninguém me agradece ou reconhece o meu trabalho? Quanto mais inseguros, hesitantes e solitários nós formos, maior será a nossa necessidade de popularidade, apreço. Isso é muito sério, não é? Infelizmente, essa fome nunca será saciada.


Quanto mais apreciado somos, mais desejamos ser. A fome de aceitação humana é como um barril sem fundo. Ninguém pode encher. Ela nunca será satisfeita. Jesus respondeu ao tentador: "Também está escrito: Não ponha o Senhor à prova." Nouwen diz que a procura de prestígio pessoal é a expressão da dúvida que temos relativamente à forma plena e incondicional com que Deus nos aceita.


Vou repetir: a procura de prestígio pessoal é a expressão da dúvida que temos relativamente à forma plena e incondicional com que Deus nos aceita. Trata-se, literalmente, de pôr Deus à prova. É o mesmo que dizer: "Não estou bem certo de que o Senhor gosta mesmo de mim, de que o Senhor me ama de verdade, de que o Senhor acha mesmo que eu tenho algum valor?" “Deus, estou te dando a oportunidade de me demonstrar o quanto se importa comigo, acalmando meus medos internos com apreço humano. Aliviando a minha baixa autoestima com aplausos humanos.” Então você me diz: "Ai, que exagero! Eu não quero aplausos." Ah, mas você quer atenção. Você quer que as pessoas te achem inteligente, legal, espiritual. Um bom amigo, uma boa amiga, um bom esposo, uma boa esposa, uma boa mãe, um bom pai. Um excelente profissional.


De um modo ou de outro. Nós queremos ser aceitos pelo outro. O verdadeiro desafio que nos é proposto, é regressar ao centro, ao coração e encontrar a voz suave que nos fala e nos confirma de uma forma que nenhuma outra voz pode fazer. A base de tudo o que nós estamos falando está relacionada à experiência da aceitação ilimitada e irrestrita de nós mesmos como filhos bem amados.


Necessitamos de revelação sobre a nossa filiação. Quando a identidade de Cristo nos é revelada, nos tornamos livres. Somos libertos da necessidade compulsiva de sermos aceitos, vistos, apreciados, admirados, e então somos totalmente conduzidos pelo Espírito. A Ângela tem uma frase que, para mim, foi libertadora: "Só se sente humilhado quem é soberbo."


Quem se conhece em Cristo leva pedras de um Simei como Davi e segue a vida. E se você não entendeu essa ilustração, leia a história de Davi na Bíblia que você vai entender. Essa experiência de aceitação de Deus nos liberta do nosso eu carente. Criando assim um novo espaço onde podemos prestar uma atenção desinteressada aos outros.


Essa nova liberdade em Cristo permite que nos movimentemos no mundo já sem as inibições das nossas compulsões, agindo de forma criativa, mesmo quando caçoam de nós, mesmo quando nos rejeitam, até mesmo quando as nossas palavras e ações podem nos conduzir à morte. A vida espiritual que nos liberta de nós mesmos só pode ser alcançada com disciplina. É essa mesma que tem sido tão falada que eu tenho ouvido tantas críticas. É querido quarto secreto, Primícias para Deus.

Precisamos nos familiarizar com o silêncio, o silêncio interno, para assim ouvirmos a voz de Deus.


Terceira tentação: a tentação de sermos poderosos, fortes. A terceira e mais sedutora tentação a que Jesus foi submetido é a tentação do poder. O diabo mostrou a Jesus todos os reinos e o seu esplendor, dizendo: "Tudo isso lhe darei se, prostrado, você me adorar." Não dá nem para dizer que a procura pelo poder seja algo do nosso tempo.

Teve início lá no Éden. Não foi assim que Deus falou, “Eva, você não vai morrer. Pelo contrário, você vai ser conhecedora do bem e do mal. Você vai ser igual a Deus.” Está na nossa natureza.


A serpente, na sua conversa com a mulher, a instiga, ou quem sabe, a desperta em ser igual a Deus. A partir do momento que iniciamos a nossa ascensão em direção ao topo, nos convencemos de que lutar pelo poder e querer servir para alguma coisa e, para todos os efeitos práticos, a mesma coisa. Essa falácia está tão profundamente entranhada na nossa forma de viver que não hesitamos em tentar chegar a posições influentes, convictos de que fazemos para o bem do Reino de Deus.


É quase impossível acreditarmos que algum bem possa vir da impotência real, da impotência total. Em um mundo onde a ambição é louvada, a partir do momento em que entramos na escola até entrarmos no mundo competitivo do livre empreendimento, fica difícil imaginar que possa derivar algum bem da desistência do poder ou até da falta de desejo pelo mesmo.


A convicção que impregna toda a nossa sociedade é que o poder é um bem e que aqueles que o possuem só podem desejar ter ainda mais. O poder pode assumir muitas formas: dinheiro, contatos, fama, capacidade intelectual, aptidões humanas, tudo isso são formas de alcançar um certo sentido de segurança e controle e de reforçar a ilusão de que poderemos dispor da vida à nossa vontade, uma ilusão.

Por isso, é bastante compreensível que, tanto a nível pessoal como nacional e internacional, seja sempre o poder que está em jogo.


Essa questão de acharmos que temos o controle é tão, mas tão ilusória. Lembremos o exemplo de Jó; é um exemplo atual. Aquele avião que caiu, tantas pessoas tiveram as suas vidas ceifadas e quantos relatos... Teve uma quantidade de pessoas que eram para embarcar e por algum acontecimento não embarcaram.


Vidas ceifadas, mas também vidas preservadas e ninguém sabia de nada. Ninguém sabia o que estava por vir. Não temos nada, meus irmãos, nessa terra. Nada nos pertence. Nós não somos nada. Apocalipse 3:17: "Você diz: Sou rico, estou bem de vida e não preciso de nada. Mas você não sabe que é infeliz, miserável, pobre, cego e nu."

Não existe quase nada mais difícil de ultrapassar do que o nosso desejo de poder. O poder cobiça sempre um poder maior, precisamente por ser uma ilusão. O mistério da nossa vida com Deus é sermos chamados a servir.


E nós não queremos servir, nós queremos ser servidos. Ou se nós servimos, nós queremos algo em troca, que seja o outro dizer que eu estou fazendo alguma coisa e me agradecer, e não um agradecimento simples. Tem que ser um agradecimento que faz jus ao meu serviço.


O mistério da nossa vida com e em Deus é sermos chamados a servir, não com o nosso poder, mas com a nossa impotência. É através da nossa impotência que podemos entrar em solidariedade com o outro, com o próximo, formando uma comunidade com os fracos e revelando assim a misericórdia de Deus que cura, guia e nos sustenta. Não somos chamados a tocar nos pontos fortes das pessoas, mas na sua consciência da própria dor, não naquilo que elas têm sob controle, mas ali onde se sentem amedrontadas e inseguras, não na sua autoconfiança e assertividade, mas naquilo em que se atrevem a duvidar e a levantar questões difíceis.


Em suma, não onde elas vivem na ilusão da imortalidade, mas naquilo em que estão dispostas a confrontar-se com a sua humanidade decaída, frágil e mortal. Disse o autor da Carta aos Hebreus: "Não temos um sumo sacerdote que não possa se compadecer das nossas fraquezas. Pelo contrário, ele foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança, mas sem pecado."


Então, responde Jesus à tentação relacionada ao poder: "Adore o Senhor, seu Deus, e preste culto somente a Ele." Essas palavras nos trazem à memória que somente a atenção total que dedicamos a Deus pode tornar possível que fiquemos de pé espiritualmente. As tentações de sermos importantes, impressionantes e poderosos permanecerão conosco, provavelmente enquanto houver fôlego de vida em nós.


No entanto, quando conseguimos reconhecer essas tentações como tentativas sedutoras de nos mantermos agarrados às ilusões do falso eu, elas podem se transformar em convites à procura do nosso verdadeiro eu que está escondido apenas em Deus.


Há um treinamento para se esvaziar de si mesmo. Olha só, há um treinamento para você se esvaziar de você mesmo. Sabe qual é? Chama-se o próximo.

O próximo é o nosso treinamento de esvaziamento de nós mesmos. Ah! Que bênção é o próximo, não é? Seja na localidade, na comunidade onde você está, seja na sua casa, com seu marido, sua esposa, seus filhos, seus irmãos, seus amigos. Quanto mais eu desejo estar só, quanto menos eu desejo comunhão, mais soberbo eu me torno. Mas a esperança.


Hoje, se ouvirem a Sua voz, não endureçam o coração. Ele é o nosso Sumo Sacerdote que se compadece de nós. Amém. Irmãos.

 

Mensagem ministrada na Comunidade de Cristão Betesda na manhã de domingo em 19 de Agosto de 2024 por Emilene Santos.

 

 

 

 

 

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